Respaldada pela FIJ, Confederação Pan-Americana de Judô impõe o caos ao Grand Prix de Havana/Respaldada por la FIJ la Confederacion Panamericana de Judo impone el caos en el Grand Prix de La Habana (Revista Budo, esportes de combate)
Grand Prix de Judô Havana 2016
22/01/2016
Despreparo e incompetência dos gestores do judô pan-americano lançam 393 atletas vindos de 66 países numa aventura sem precedentes.
Por PAULO PINTO IFoto BUDOPRESS
Havana – Cuba
O Grand Prix de Judô de Havana é o evento da Federação Internacional de Judô (FIJ) que abre oficialmente o calendário esportivo desta temporada, e pelos fatos ocorridos em Havana podemos afirmar que o judô começou 2016 com o pé esquerdo e de forma dramática.
A Confederação Pan-americana de Judô (CPJ), a Federação Internacional de Judô e Federação Cubana protagonizaram um episódio execrável para o judô mundial, ao exporem dezenas de delegações, centenas de atletas e dirigentes a uma situação vexatória e de extremo estresse.
Nenhuma delegação esportiva vai ao exterior sem antes fazer reservas na rede hoteleira e pagar antecipadamente pelos serviços que serão oferecidos, principalmente quando o destino da equipe é um país do Terceiro Mundo e, em especial, quando o paradeiro final é Cuba, um país com profundos problemas estruturais, enormes restrições sociais e limitações gigantescas quando falamos em qualidade de serviços.
Os eventos da Federação Internacional de Judô (FIJ) atendem a uma série de determinações e normas que visam a salvaguardar a segurança e os interesses dos milhares de atletas e dirigentes que viajem por todo o planeta na realização das competições e congressos promovidos anualmente pela entidade. No caso específico do GP de Havana, o site da FIJ exigiu que as inscrições para o evento fossem realizadas até 11 de dezembro.
Desordem surpreende delegações estrangeiras
Tivemos conhecimento do caos nesta quinta-feira (21), quando um dirigente sul-americano revelou à Revista Budô o drama vivido em Cuba por delegações inteiras que viajaram com reservas efetuadas no Hotel Meliá Havana, mas não conseguiram hospedar-se. “Há mais de 48 horas dezenas de dirigentes internacionais estão no lobby do hotel brigando para acomodar suas equipes. A maioria fez reserva e pagou as diárias antecipadamente, mas os funcionários da empresa afirmam que todas as reservas foram canceladas. Em toda a minha vida como dirigente jamais havia visto um problema tão grave como esse. A desorganização da CPJ e de Cuba afetou até países do nosso continente e o Chile é um exemplo. O Brasil só conseguiu hospedagem no hotel oficial porque Luiz Shinohara, técnico do time masculino e chefe da delegação, foi combativo, brigou muito e hospedou todo o time na marra. Mesmo assim a direção do hotel advertiu que a delegação brasileira deveria deixar os quartos no dia seguinte. Estou brigando há quatro horas, mas ninguém resolve nada. Muita gente fez o depósito das diárias, mas não existem quartos disponíveis. Além de deplorável, a situação é gravíssima”, lamentou Fernando Ibáñez García, presidente da Federação Equatoriana de Judô e secretário geral do Comitê Olímpico do Equador.
Perguntamos qual é a alegação dos dirigentes da CPJ, mas ninguém sabe nada sobre o paradeiro dos dirigentes. “Nem Manuel Larrañaga, presidente da CPJ, e nem Ignacio Aloise, secretário geral da entidade, apareceram no hotel oficial do evento. O único que está aqui é José Humberto, que está sendo muito atencioso e gentil, mas já faz quatro horas que diz que vai resolver meu problema e até agora nada foi feito. Ele está desesperado porque as principais forças do judô mundial estão com suas bagagens no lobby do hotel, e os russos já estão ensaiando promover um escândalo. É um desastre total, uma situação inédita e sem precedentes. A delegação da Geórgia solicitou a devolução do dinheiro depositado, e está sugerindo colocar os atletas em residências. Só ouvimos gritos e reclamações, e lamentavelmente não existem garantias de absolutamente nada”, explicou Ibáñez.
Dudley López Uribe, presidente da Federação Costarriquense de Judô e vice-presidente da região Centro-Norte da Confederação Pan-americana, fez a sua versão do caos que, segundo o dirigente centro-americano, foi ocasionado pela inexperiência dos novos comandantes da CPJ. “Isso é um desastre completo. Como eles ainda querem realizar um campeonato pan-americano aqui? Cheguei ao meio-dia, e tinha a senha de atendimento de número 2. Fui muito bem recebido pelo pessoal da FIJ, mas somente quando fui realizar o check in no hotel é que me dei conta do desastre produzido pela CPJ. Descobri que não havia hotel para a Costa Rica, e que aconteceu o mesmo com as equipes dos principais países do mundo. Propuseram-nos mudar para um hotel de terceira categoria, mas pagando hotel de primeira. Em seguida nos deparamos com a delegação da China, que desde as 9 horas da manhã tentava dar entrada no hotel que havia sido contratado e pago. Os chineses estavam esgotados, com fome e muito estressados, mas nenhum cubano apareceu aqui para dar suporte a eles. Além de irresponsável, esta aventura da CPJ nos causa uma vergonha enorme e expõe o retrocesso na gestão do judô continental. Eles tiveram de interromper o credenciamento dos atletas e técnicos porque não existe toner para as impressoras e nada aqui funciona. Até a água que tomamos temos de pagar. Estou passando a maior vergonha de minha vida como dirigente esportivo.”
Luiz Shinohara, técnico da seleção brasileira sênior, explicou que encontrou uma situação de caos total em Havana. “Não entendemos o que acontecia, pois o clima estava bastante tenso e parecia que as pessoas não estavam se entendendo. O pessoal do hotel afirmou que não havia reserva alguma, e apresentamos a documentação de quitação da solicitação de reserva da nossa delegação, mas somente após quatro horas de espera é que fomos hospedados, mas sob a condição de no dia seguinte desocupar os quartos que estavam pagos. Algo inimaginável e totalmente fora de propósito. Esta situação se repetiu com mais da metade das equipes que estavam hospedadas no Hotel Meliá Havana, mas nós batemos o pé e não saímos dos quartos. A Suíça e a França passaram pelo mesmo constrangimento, sendo que toda a equipe francesa foi levada para um hotel que parecia uma casa de prostituição. Não dá para explicar o que todos nós passamos aqui, e o pessoal da imprensa também está reclamando muito, já que os serviços de comunicação em Cuba praticamente não existem. A hora de internet custa 40 dólares.”
Shinohara explicou a origem do problema. “Acredito que a causa de todo esta confusão seja a falta de experiência de quem organizou o certame, a total falta de controle do país sede e a omissão da Federação Internacional de Judô. Essa gente não tem a menor capacidade e preparo para promover um evento desse porte. Estamos na reta de chegada da classificação para os Jogos Rio 2016, e vários países que jamais haviam competido na América vieram em busca dos pontos para o ranking da FIJ. A repercussão será gigantesca e todos nós pagaremos o preço desta irresponsabilidade da FIJ, que avalizou a realização do Grand Prix em Havana. Após mais este desastre a CPJ assinou atestado de incompetência na gestão do judô pan-americano. Já carregamos o estigma de subdesenvolvidos, e este episódio ratificará nossa incompetência. Acredito que a catástrofe protagonizada aqui deverá inibir a realização do campeonato pan-americano sênior que deveria realizar-se no Brasil e foi transferido para Cuba.”
Na abertura do congresso técnico realizado na tarde de quinta-feira (21), Marius Vizer, presidente da Federação Internacional de Judô, lamentou os problemas ocorridos e transferiu a culpa de todo o processo para a agência de viagens responsável pelo recebimento e bloqueio dos hotéis. Entretanto, a indicação da agência, que é de Cuba, foi feita pela Federação Cubana de Judô e a decisão de creditá-la para o evento foi da FIJ.
O fato lamentável expõe a total falta de experiência e a incapacidade dos atuais gestores continentais da modalidade em administrar crises e buscar soluções rápidas para os problemas que afligem o dia a dia da modalidade.